O diretor do FBI, Christopher Wray, afirmou em depoimento ao Senado na terça-feira (31) que o risco de um ataque terrorista nos Estados Unidos é o mais alto desde a onda de atentados do Estado Islâmico (EI) na década passada, durante a guerra Israel-Hamas. Essa advertência não surpreende, mas destaca a preocupação com a segurança no país.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, Nova York montou uma força antiterrorista que se tornou referência para outros departamentos de polícia em grandes cidades. Essa força, composta por 1.500 policiais e agentes, foi apelidada de mini-CIA devido aos recursos de inteligência disponibilizados.
No entanto, quando se trata de crimes de ódio isolados, nenhuma quantidade de inteligência pode preveni-los em uma cidade com a maior população judaica fora de Israel (1,6 milhão) e a maior população muçulmana dos EUA (1,5 milhão). A tensão entre as comunidades étnicas é evidente e é alimentada pelas redes sociais.
O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e a resposta militar israelense estão dividindo a cidade e o país de uma forma nunca antes vista. Incidentes de violência espontânea estão se multiplicando. Por exemplo, uma passageira em Manhattan foi socada no rosto por um estranho que justificou o ataque dizendo “porque você é judia”. Da mesma forma, um adolescente sikh, frequentemente confundido com muçulmanos, foi agredido dentro de um ônibus por usar turbante.
Os conflitos também se refletem nas universidades, onde hostilidades entre estudantes e professores geram um clima de intimidação que força a escolha de um lado. Um estudante de engenharia do norte do estado foi preso depois de ameaçar matar alunos judeus da Universidade Cornell.
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez foi atacada por defender nas redes sociais a importância de separar os povos de seus governos e por argumentar que a defesa dos direitos humanos dos palestinos é incompatível com o antissemitismo.
A diversidade étnica, a densidade demográfica e o papel protagonista de Nova York fazem com que a cidade reflita os conflitos internacionais. No entanto, parece haver um crescente apetite por violência, impulsionado pelo governo Trump, pela pandemia de Covid-19 e pelos protestos do movimento Black Lives Matter em 2020, tudo isso agravado pelas conspirações e desinformação disseminadas por bilionários da mídia como Rupert Murdoch e o antissemita Elon Musk.
Tendo testemunhado o medo e o preconceito que atingiram as comunidades muçulmanas após os ataques de 11 de setembro, fico imaginando como Nova York teria reagido se essa tragédia tivesse ocorrido nos dias de hoje.
Enquanto escrevo, ouço as risadas das crianças judias ortodoxas dos meus vizinhos em uma escola religiosa próxima à minha janela. Penso no medo previsível dos pais que caminham pelo bairro à noite, facilmente reconhecíveis por sua vestimenta.
Não podemos justificar a violência e a carnificina que presenciamos diariamente sem abdicar de nossa humanidade. No entanto, os incidentes de ódio e as fantasias de violência disseminadas online parecem ser ataques aleatórios em busca de alvos.
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e informe que a fonte deste artigo é https://www1.folha.uol.com.br/colunas/lucia-guimaraes/2023/11/guerra-israel-hamas-divide-os-eua-como-nenhum-outro-conflito-deste-milenio.shtml