De acordo com um relatório do World Shipping Council, aproximadamente 1.400 contêineres caem de navios de carga para o mar todos os anos (em 2020 foram mais de 3.000 perdas!). Isso causa um grande prejuízo ao comércio mundial.
Uma solução para esse problema seria melhorar a previsão da altura, profundidade e direção das ondas. Embora o clima seja um fator importante, há outros aspectos a serem considerados, pois mesmo com um tempo bom, as ondas podem se comportar de maneiras muito diversas. Embora existam equipamentos de radar específicos que possam ajudar, eles são caros e nem todos os navios têm acesso a eles, sem mencionar que nem sempre são confiáveis.
Em um artigo publicado na revista Marine Structures, pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia propuseram uma abordagem interessante. A ideia inicial é chamada de “analogia de boia de onda”: pensar no navio como uma boia que sobe e desce junto com o oceano e usar esse movimento de flutuação para calcular informações sobre o comportamento presente e futuro das ondas.
Teoricamente, o cálculo é bastante simples, envolvendo a resolução de uma equação linear, que é o tipo mais fácil de equação. No entanto, na prática, surgem algumas dificuldades. Atualmente, a equipe está testando o método em modelos de navios parados, com resultados promissores. Um desafio futuro será aplicar esse método a navios em movimento, cuja analogia com boias é menos óbvia.
Uma questão que precisou ser resolvida é que os navios não têm a forma de boias (rosca ou bola): a geometria do casco do navio precisa ser levada em consideração no cálculo. Na verdade, a analogia entre ondas e boias já era conhecida desde os anos 1980, mas a equipe norueguesa descobriu que ela, sozinha, não fornece resultados muito precisos.
Para tornar o método eficiente, eles precisaram suavizar os dados usando uma técnica chamada curva de Bézier, em homenagem ao engenheiro francês Pierre Bézier (1910–1999), que a desenvolveu e popularizou. Na próxima semana, falarei mais sobre ele.
O mais interessante é que Bézier estava trabalhando para a Renault e seu objetivo era utilizar computadores para projetar carrocerias bonitas e funcionais para os carros produzidos pela empresa. O fato de que essas mesmas ideias são igualmente úteis na navegação e, de fato, estão na base de quase todos os projetos de CAD (desenho assistido por computador) hoje em dia é mais uma prova da universalidade da matemática e de como ela é uma ferramenta poderosa para entender e transformar o mundo.
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e informe que a fonte deste artigo é https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloviana/2023/10/navegar-e-preciso-com-matematica.shtml.