Maria Hermínia Tavares: A fênix peronista

A trajetória de Maria Hermínia Tavares: um exemplo de ressurgimento político

Em 1998, Tulio Alperin Donghi, um respeitado historiador argentino, publicou “La larga agonia de la Argentina peronista”, onde argumentou que a sociedade moldada pelas políticas de bem-estar social do primeiro governo de Juan Domingo Perón (1945-1955) estava se tornando inviável.

Desde então, com altos e baixos na economia e alternância de poder entre peronistas e opositores diferentes, tornou-se cada vez mais difícil manter o padrão de vida da maioria dos argentinos sem gerar uma inflação descontrolada. O país tem se empobrecido gradualmente (ainda assim, a renda per capita dos vizinhos continua sendo muito maior do que a nossa).

Muitos foram aqueles que, a cada eleição perdida – 1989, 1998, 2015 –, previram o fim do peronismo como força política. Agora, mais uma vez, eles erraram. O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais do domingo, 22/10, mostra o contrário. Sergio Massa, candidato da União pela Pátria, saiu na frente, mesmo tendo tido o pior desempenho de seu movimento desde a redemocratização do país em 1983.

Em todas as partes, a escolha do eleitor é influenciada pela oferta de candidatos e pelas circunstâncias que a determinam. Mas vale a pena perguntar quais são os motivos que explicam a longevidade do peronismo, quando houve uma mudança notável no campo oposto nos últimos 30 anos – desde Alfonsin até a direita barulhenta de Bullrich e Milei.

Alguns atribuem isso à capacidade inata do justicialismo, como Juan Domingo batizou seu movimento, de organizar os trabalhadores em sindicatos poderosos e dar-lhes identidade e espaço próprios no jogo político nacional. E quando o sindicalismo perdeu força, o peronismo conseguiu construir uma extensa rede clientelista por meio de políticas sociais, conforme demonstrou o cientista político Steve Levitsky em “Transformando partidos baseados no trabalho na América Latina: o peronismo argentino em perspectiva comparada”.

No entanto, há quem acredite que sua resiliência vem da habilidade de se adaptar às circunstâncias. É o caso do escritor Martin Caparrós. Ele argumenta que, desde o seu surgimento, quase 80 anos atrás, o peronismo tem sido principalmente uma máquina voltada para se manter no poder, tendo sido “nacionalista mussoliniano, operário e resistente, guevarista, social-democrata, democrata-cristão, neoliberal – e várias outras coisas”.

Ganhando ou perdendo no segundo turno de 19 de novembro, é provável que ocorra mais uma dessas metamorfoses.


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