O antissemitismo puro e claro nega a existência do Holocausto. Porém, há também uma forma mais “sofisticada” de antissemitismo, disseminada por intelectuais que perderam qualquer senso de decoro. Essa forma acusa Israel de repetir as ações da Alemanha nazista, promovendo um “genocídio” dos palestinos. O gesto de Erdan revela uma das piores características do governo de Netanyahu: a manipulação do Holocausto como justificativa para suas ações questionáveis.
Desde os terríveis acontecimentos de 7/10, o governo de Israel tem frequentemente associado o Hamas ao nazismo. Essa banalização do mal absoluto tem o propósito de descrever o conflito com o Hamas como uma guerra existencial, o que oferece uma desculpa para contornar as leis internacionais de guerra.
O Hamas é uma organização conhecida por cometer terríveis assassinatos contra civis inocentes, inclusive crianças, de forma deliberada e fora do contexto de combate. No entanto, seu objetivo de eliminar o Estado judeu não se compara ao extermínio em massa de milhões de judeus nos campos de concentração nazistas. O Yad Vashem existe justamente para ensinar a singularidade do Holocausto.
Dayan recomendou que Erdan carregasse a bandeira de Israel, em vez da estrela de Davi. O papel de um embaixador é representar um Estado, não os judeus europeus que foram vítimas do nazismo. Os Estados têm o direito de se defender, o que inclui a destruição do aparato governamental e militar do Hamas. No entanto, o governo de Netanyahu não pode invocar a “ira” como justificativa para promover uma guerra de “vingança”.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) iniciou investigações sobre os atos do Hamas e de Israel. Os crimes cometidos pela organização terrorista são evidentes: sequestro de civis, uso de reféns para fins de propaganda de guerra, uso de civis palestinos como escudos humanos e lançamento indiscriminado de foguetes contra cidades israelenses. No entanto, o combate contra um inimigo cruel não justifica a punição coletiva sanguinária imposta aos palestinos de Gaza.
Israel deve ser submetido a um padrão mais rigoroso que o Hamas, justamente por ser um Estado. O bloqueio quase total da entrada de ajuda humanitária, alegadamente para pressionar a devolução dos reféns, configura um crime de guerra grave.
A Quarta Convenção de Genebra permite a morte inevitável de civis durante os combates, mas não concede licença para matar. A BBC comprovou que Israel atacou áreas especificamente identificadas como abrigos seguros para os habitantes de Gaza. Durante a guerra, é aceitável a transferência temporária de civis para afastá-los das linhas de tiro, mas nunca a limpeza étnica. No entanto, um documento do Ministério da Inteligência de Israel sugere a remoção definitiva da população de Gaza.
O avô do embaixador Erdan morreu no campo de Auschwitz. Honrar sua memória significa, acima de tudo, abster-se de usar o nome de Auschwitz para justificar violações flagrantes do direito humanitário.
O ombudsman insiste em ocultar as investigações sobre a explosão no hospital de Gaza em 17/10, alegando a falta de “verdades definitivas”. No entanto, os leitores têm o direito de conhecer a verdade provisória, disponível nos jornais Guardian, New York Times, Washington Post, BBC e Economist. Segundo essas fontes, a hipótese mais provável é que a tragédia tenha sido causada por foguetes errantes lançados a partir de Gaza. Nem tudo o que acontece pode ser atribuído a crimes de guerra cometidos por Israel.
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