Falar que o torcedor corintiano, no fundo, gosta da sofrência e do que está vendo nos últimos, para arredondar, cinco anos é 1) querer se apossar de sentimentos coletivos em função de gostos individuais; 2) discurso para inflacionar o valor que a torcida tem, o que sempre pega bem; 3) glamourização do jogo mal jogado.
O Corinthians está dando voltas e voltas e voltas e se apequenando no cenário nacional. Ele entrou na semifinal contra o Fortaleza como zebra e saiu eliminado após dois jogos em que o melhor time jogou melhor, tanto fora quanto em casa. Não é só o Corinthians que tem torcida grande e lota estádio. O novo modelo de futebol brasileiro deu uma igualada no que era uma grande vantagem do Corinthians – por ter a Fiel. O Fortaleza, grande também, ainda que sem o mesmo protagonismo nacional histórico, é mais bem gerido fora e dentro de campo e colhe os frutos disso.
Será que algum dos tantos técnicos que rodaram no Corinthians poderiam ter sido um Vojvoda no clube paulista, se tivessem as ferramentas e o tratamento que teve Vojvoda no Fortaleza?
Em algum momento, se aparecia no Corinthians um técnico falando em “jogar bem”, era automaticamente achincalhado. “Aqui não tem essa de jogar bem, o que queremos é resultado!”, bradam os adoradores do futebol de 1 a 0.
Lá em 2017, quando o Corinthians achou um título brasileiro, poderia e deveria ter aproveitado o momento para uma autocrítica. Aquele tipo de jogo não levaria a muita coisa, era necessário mudar. É muito mais fácil mudar na bonança, com o troféu na mão, quando está todo mundo elogiando, do que mudar na crise e ficar tentando achar resultados no meio de uma desastrosa gestão de elenco – nem estou falando dos jogadores atuais, mas pensem na quantidade de contratados, emprestados e jogadores que o Corinthians passou anos pagando para jogarem por outros clubes.
Enquanto a imprensa-torcedora, mais torcedora do que imprensa, glamourizava o 1 a 0 e o título suado, os grupos de poder que se sucedem no clube faziam uma horrível gestão esportiva. O Corinthians é um dos privilegiados do futebol brasileiro, ganha um dinheiro absurdo por direitos de TV, foi o grande pivô, 13 anos atrás, da implosão do Clube dos 13 e do início de elitização do esporte aqui. O resultado disso mais ajudou a concorrência do que ele mesmo.
Fonte: UOL Esporte