Um grupo de organizações da sociedade civil, do qual contou também com a participação da Coalizão Negra por Direitos, conduziu recentemente uma pesquisa nacional inédita sobre a possibilidade de Lula nomear uma mulher negra para o STF (Supremo Tribunal Federal). Como conclusão, o estudo encontrou evidências mostrando que os brasileiros apoiam a nomeação de uma mulher negra para o Supremo e que ao fazê-la, a popularidade do próprio Lula aumentaria.
Em uma escala de 0 a 100, onde 0 representa forte oposição e 100 significa forte apoio, a pesquisa constatou que a média de apoio à nomeação de uma mulher negra por Lula como nova juíza da corte é de 65,4. O apoio à nomeação é ligeiramente superior à média entre as mulheres (69,2, ou +3,8 acima da média) e entre aqueles com mais de 55 anos (66,4, ou +1 acima da média). Mesmo entre aqueles que se identificam como de direita na política, a nomeação tem considerável apoio (56,1), mas ainda não se compara ao amplo apoio da esquerda (78,7).
A pesquisa mostra ainda que a nomeação ao STF pode ter um papel na popularidade do atual presidente. Quando questionados se o apoio a Lula aumentaria ou diminuiria com a indicação de um homem branco para o Supremo Tribunal Federal, o estudo sugere que os brasileiros, em média, podem diminuir a aprovação do presidente em 4,1 pontos. Quando foi feita a mesma pergunta, mas para a nomeação de uma mulher negra, os brasileiros inclinam-se para um aumento ao apoio a Lula de 7,4 pontos.
Chama também a atenção o fato de que o estudo contou com uma aleatorização para identificar como a campanha para Lula indicar mulher negra para ministra influenciou as opiniões das pessoas. Vale destacar que, se bem conduzida, essa metodologia é considerada como o “padrão ouro” em pesquisas voltadas para analisar avaliação de impacto.
Por meio da plataforma Swayable, foi coletada a opinião de mais de 11 mil cidadãos em todo o Brasil. Os testes feitos a partir da intervenção mostrou que assistir a um simples vídeo da campanha, como por exemplo, o realizado pelo IDPN (Instituto de Defesa da População Negra) intitulado como “Todo Mundo tem um Sonho” (disponível no Youtube), ampliou ainda mais o apoio da direita e esquerda ao tema.
A nomeação de Ketanji Brown Jackson nos EUA
Uma pesquisa similar também foi realizada durante o processo de nomeação de Ketanji Brown Jackson como a primeira mulher negra a integrar a Suprema Corte dos EUA. Entretanto, existem diferenças importantes no contexto.
Biden cumpriu imediatamente a promessa de campanha de nomear uma mulher negra quando surgisse a oportunidade, de forma que a campanha nos EUA se centrou mais na aprovação do Congresso e na divulgação das qualificações de Ketanji Brown Jackson, do que no apoio à sua nomeação. No entanto, tanto os esforços dos EUA como os do Brasil enfatizaram o significado histórico de nomear uma mulher negra para um cargo tão importante.
O apoio geral à nomeação de Ketainji Brown Jackson foi, na verdade, ligeiramente menor nos EUA do que a ideia de nomear uma mulher negra para o STF no Brasil (58,8 em comparação com 65,4 do caso brasileiro). Pessoas de direita no Brasil parecem ser mais favoráveis à nomeação do que pessoas de direita nos EUA (56,1 em comparação com 36,8 para os muito conservadores e 47,7 para os conservadores moderados americanos).
O texto é uma homenagem à música “Evolution”, composta e interpretada por Ablaye Cissoko.
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e informe que a fonte deste artigo é https://www1.folha.uol.com.br/colunas/michael-franca/2023/10/indicacao-para-stf-afetaria-popularidade-de-lula.shtml