No câncer de mama, no entanto, essa possível relação veio à tona muito mais recentemente. “Além disso, como a própria Béatrice Fervers contou, a maioria dos estudos que relacionam poluição e câncer analisam a qualidade do ar em um determinado momento, enquanto o estudo dela acompanhou esse aspecto ao longo de um período significativo de tempo.”
Os pesquisadores franceses foram além. Eles não examinaram apenas os registros de qualidade do ar ao longo desse período em uma área de 50 metros quadrados onde as mulheres trabalhavam, mas também verificaram a concentração de poluentes em uma área de 50 metros quadrados correspondente aos seus endereços residenciais. A maioria dos estudos anteriores sobre poluição e risco de doenças examinou apenas uma única localização, como em casa ou no trabalho, por exemplo.
Os cientistas também consideraram o tempo médio que as mulheres passaram em cada local para calcular a exposição à poluição ao longo do dia.
Aliás, esse foi o detalhe que intrigou a doutora Solange Sanches: “As francesas do estudo passaram, em média, 20% do tempo no trabalho e o restante em casa. No Brasil, suspeito que seria bem diferente!”, brinca. No entanto, a idade das participantes pode ter contribuído para menos horas de trabalho.
Béatrice Fervers e seus colegas utilizaram um banco de dados iniciado em 1990, com informações de saúde de 98.995 mulheres entre 40 e 65 anos. Elas foram acompanhadas por mais de duas décadas. Vale ressaltar que muitas delas podem ter se aposentado durante esse período até 2011. Ao longo desses 22 anos, 2.419 mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama.
Os cientistas calcularam a exposição aos poluentes apenas no grupo que desenvolveu a doença e em um grupo controle de 2.984 mulheres selecionadas aleatoriamente entre as demais participantes que não desenvolveram câncer de mama.