A greve na Universidade de São Paulo (USP) surge como uma resposta ao projeto de universidade considerado neoliberal pelos críticos. Ao invés de prever uma reposição direta das vagas de professores que se aposentam, a reitoria propõe editais “de mérito”. No entanto, o sindicato docente classifica esse processo como subjetivo e uma imposição de visão meritocrática e produtivista. A greve defende o retorno do gatilho automático para a substituição de professores, ou seja, a abertura de um concurso para preencher a vaga aberta pela aposentadoria.
Essa disputa entre faculdades e institutos pelo direito de repor professores acaba afetando principalmente as graduações menos prestigiadas. Alguns cursos, como coreano na área de Letras, correm o risco de fechar. Disciplinas em artes plásticas foram canceladas, obstetrícia sofre na USP Leste e a área de humanidades enfrenta salas lotadas e falta de disciplinas optativas. A greve busca defender a importância da reposição de professores ao acompanhar as aposentadorias.
A cobertura da greve pela mídia tem se mostrado variada. O Estado de São Paulo, que inicialmente mostrou simpatia às demandas do movimento, agora traz opiniões de docentes titulares para questionar os métodos da greve e sinalizar possíveis represálias judiciais. Enquanto isso, a Folha de S. Paulo utiliza a greve para criticar o financiamento das universidades públicas e defender a cobrança de mensalidades. Com a entrada em vigor da reforma tributária e um governo privatista, a situação se torna ainda mais complicada. A USP é financiada por um percentual do ICMS, imposto que deve acabar até 2033. Esse cenário gera incertezas quanto ao futuro da universidade.
Além disso, é importante considerar a construção do movimento. Os estudantes parecem menos engajados nas conversas e diálogos necessários para fortalecer a greve. Em um ambiente político cada vez mais virtual, as formas de comunicação têm se limitado a ofícios secos, contatos ríspidos diante dos piquetes ou nas redes sociais. A falta de preparo no debate tem impedido o reconhecimento de uma questão óbvia: a greve é uma forma de solidariedade aos docentes e funcionários, que também são afetados pelo sucateamento da universidade. O sindicato docente e o de funcionários da USP não aderiram ao movimento grevista, mas indicam uma paralisação em protesto ao atual estado da instituição.